Dennis Storm
A antiga celebridade que se transformou num minimalista a tempo inteiro
Dennis Storm, outrora apresentador de um conhecido programa de televisão holandês, escreveu recentemente um livro sobre a beleza do minimalismo e adora construir com as suas próprias mãos. Vive com a namorada e com os dois filhos num espaço com 22m2, gastando o seu tempo em actividades que lhe são verdadeiramente importantes.
Encontramo-nos com ele para discutirmos um mundo ideal assente nas suas ideias minimalistas, o que curiosamente deu origem a uma entrevista maximalista. “Sentimos falta de um objectivo colectivo, mas está mesmo à nossa frente. Nós é que não o queremos ver”.
Quando é que decidiu trabalhar menos e focar-se noutras coisas? “Eu não quis trabalhar menos, quis trabalhar menos por dinheiro. Eu gostava do programa de viagens que apresentava, só não gostava de o apresentar, e por isso não me considerava um bom exemplo para os meus filhos. Quando eles crescerem, gostava que fizessem algo que os entusiasmasse, e com boas intenções. Se pensas dessa forma, tens de começar por ti.”
Há muitas pessoas que vêem o seu trabalho anterior como o emprego de sonho. Isso colocava-lhe alguma pressão? “Não, mas é engraçado ver que há tantas noções pré-concebidas acerca deste género de profissões. As pessoas que trabalham na área dos media não vivem todas em Amesterdão, nem vão aos mesmos bares. Nem todas ganham balúrdios e vão para o trabalho de limousine. Se um livreiro deixar de gostar do seu trabalho e começar a fazer outra coisa, ninguém vai dizer nada. Já no meu caso, houve pessoas que não compreenderam que eu quis distanciar-me da profissão, mesmo algumas que me são próximas. Ser apresentador de televisão é uma espécie de cálice sagrado para muitos, mas eu nunca entendi a minha antiga profissão dessa maneira. Muitas pessoas não sabiam que havia mais coisas a manterem-me ocupado, mesmo quando ainda desempenhava essa função, mas também nunca perguntavam, era sempre tudo sobre o mundo da televisão. Acho isso tão estranho.”
Deixe-me então fazer-lhe uma questão: o que é que o mantém ocupado? “Diria que sou um empreiteiro, que mobila casas e que também escreve. Quando estou aborrecido, gosto de reconstruir coisas e por isso é que sempre tive o meu próprio local de trabalho em casa. Mas quis reduzir as dimensões do espaço que tinha acessível, então construí uma casa pequena na floresta, perto do mar (na Holanda). Vivemos metade do ano por lá, naqueles 22m2, e a outra metade em Bali, na Indonésia, com 25m2.”
É mesmo pequena. Como é que decide que objectos é que guarda? “Faço isso de mente limpa. No total, devo ter uma mala de viagem com pertences, mas não digo que todas as pessoas devam fazer o mesmo.”
Ser minimalista também significa ter sempre tudo arrumado? “Arrumar a casa não tem relação nenhuma com o minimalismo. Nem a Marie Kondo. Se o fizeres da melhor maneira possível, ser minimalista anda de mão dada com o fim de um vício por compras. Ajuda essencialmente a reorganizar. Contudo, não posso deixar de dizer que se organizares a tua casa de modo inteligente e não tiveres muitos pertences, não há grande necessidade de arrumações. É só preciso meter as coisas de volta no lugar delas, o que te dá alguma paz.”
Todos os seus pertences são sustentáveis? “Não, mas penso bastante nisso. Para mim, o que está errado com as ideias verdes e com o minimalismo é a noção de que tudo tem de ser perfeito. Em Amesterdão há muitas lojas de roupa que fazem tecidos a partir de materiais reciclados e de antigas redes de pesca. Todas estas marcas criticam a H&M e o Ikea, mas ao mesmo tempo estão a convidar-nos a consumir desenfreadamente a partir das suas lojas. O problema não está só nas grandes empresas que desenharam este cenário, mas também está em nós. Mesmo que só precisemos de uma nova t-shirt, acabamos a comprar oito.”
Penso imediatamente no excesso de tote bags de algodão que guardo no meu armário. Quão mau é que isso é? “Existem sacos de algodão suficientes para fazer 10 000 sacos de plástico. Na verdade, ficamos fartos dessas tote bags de algodão ao fim de três meses porque as letras e a estampagem deixam de nos interessar. Nesse sentido, é bem melhor metermos as nossas coisas num saco de plástico forte e usá-lo durante esses mesmos três meses. O mesmo problema acontece com as garrafas de água feitas de aço, mas que ficam amolgadas facilmente. Também as podes fazer com plástico, que é menos frágil. Mas não! Não o fazemos porque o plástico é mau. A ironia aqui é que são particularmente os extremistas que vão a festivais “verdes” que defendem que é melhor comprar um saco de algodão e uma garrafa de água de aço. Isso é óptimo, mas só se os usares durante anos.”
Pelo que estou a ver, há muitos mal-entendidos relativamente ao que é verde e ao que não é… “Não me faças começar! Em momento algum, um jornal explicou devidamente como é que podemos dar de comer ao mundo inteiro apenas com os alimentos que damos às nossas vacas. Se o fizéssemos, o problema da fome seria resolvido. Para acrescentar a isso: algumas pessoas ficaram aborrecidas comigo porque publiquei o meu livro em papel. Na opinião delas, devia ter apenas publicado um e-book. Esquecem-se é que, ou então não têm essa noção, de que tens de ler 40 livros por ano durante oito anos para ficares em “break even” com o ambiente. E isso nem tem em conta os e-readers, esses presentes de Natal negligenciados, que ficam esquecidos em cima da cómoda a ganhar pó. Em Holandês temos um ditado popular “daar valt niet tegenop te lezen”, que podes interpretar como “não lês o suficiente para bater isso”. Muitas das ideias que supostamente são super sustentáveis são muito menos sustentáveis do que imaginamos. Só temos de parar de comprar, mas como não temos nada para fazer, estamos constantemente a tentar preencher esse vazio com compras. Olhemos para o aborrecimento generalizado que se vê no Instagram. Diz tudo, não?”
Não temos nada para fazer, mas ao mesmo tempo estamos todos muito ocupados. Como é que isso é possível? “Falta-nos um objectivo colectivo. Em períodos anteriores, tivemos sempre um: a regeneração depois das Primeira e Segunda Guerras. Celebrar a liberdade nos anos sessenta. A luta contra a SIDA. Protestar contra a Guerra Fria. Apesar de o objectivo colectivo maior – sermos “verdes” -estar presente, não o adoptámos em massa. Eu preferia ver como é que podemos levar a Terra de forma mais eficaz em direcção a uma atitude “verde”, ver as empresas a virarem para um lado mais ecológico e ver que lutamos por algo. Mas as pessoas têm medo de fazer concessões. Todos sabem gritar aos sete ventos que precisamos de mudar, mas são poucos os que estão a fazer efectivamente alguma coisa para que isso aconteça. Não sentem a urgência, mas vai tornar-se clara. Resta saber é quando.”
Está mais consciente das alterações climáticas à conta das suas viagens? “Na verdade, nunca estive num país em que fossem tão claras. Quer dizer, uma vez estive num deserto que já tinha sido uma floresta antes, mas não estou certo de que tenha sido resultado das alterações climáticas ou um processo natural. Li muito e vi muitos documentários sobre este tema. É uma pena que esses documentários só sejam transmitidos pela televisão pública à noite. A essa hora, só pessoas que já se interessam pelo tema ou que estão dentro do tema é que assistem. Era preferível se agarrassem as pessoas que desligam a televisão assim que os programas de entretenimento terminam.”
Como é que conseguimos garantir que as pessoas que não estão a par neste momento têm a informação necessária, sem apontarmos o dedo? “Acho que vai levar muito tempo até conseguirmos todos, até porque não é assim tão simples. A maioria das vezes as pessoas ou são a favor ou são contra uma via mais ecológica. Gostamos de ver o mundo a preto e branco, mas eu prefiro vê-lo em tons de cinzento. É bom que percebamos que a forma equilibrada como lucrávamos com o nosso planeta acabou.”
Dennis Storm, outrora apresentador de um conhecido programa de televisão holandês, escreveu recentemente um livro sobre a beleza do minimalismo e adora construir com as suas próprias mãos. Vive com a namorada e com os dois filhos num espaço com 22m2, gastando o seu tempo em actividades que lhe são verdadeiramente importantes.
Encontramo-nos com ele para discutirmos um mundo ideal assente nas suas ideias minimalistas, o que curiosamente deu origem a uma entrevista maximalista. “Sentimos falta de um objectivo colectivo, mas está mesmo à nossa frente. Nós é que não o queremos ver”.
Quando é que decidiu trabalhar menos e focar-se noutras coisas? “Eu não quis trabalhar menos, quis trabalhar menos por dinheiro. Eu gostava do programa de viagens que apresentava, só não gostava de o apresentar, e por isso não me considerava um bom exemplo para os meus filhos. Quando eles crescerem, gostava que fizessem algo que os entusiasmasse, e com boas intenções. Se pensas dessa forma, tens de começar por ti.”
Há muitas pessoas que vêem o seu trabalho anterior como o emprego de sonho. Isso colocava-lhe alguma pressão? “Não, mas é engraçado ver que há tantas noções pré-concebidas acerca deste género de profissões. As pessoas que trabalham na área dos media não vivem todas em Amesterdão, nem vão aos mesmos bares. Nem todas ganham balúrdios e vão para o trabalho de limousine. Se um livreiro deixar de gostar do seu trabalho e começar a fazer outra coisa, ninguém vai dizer nada. Já no meu caso, houve pessoas que não compreenderam que eu quis distanciar-me da profissão, mesmo algumas que me são próximas. Ser apresentador de televisão é uma espécie de cálice sagrado para muitos, mas eu nunca entendi a minha antiga profissão dessa maneira. Muitas pessoas não sabiam que havia mais coisas a manterem-me ocupado, mesmo quando ainda desempenhava essa função, mas também nunca perguntavam, era sempre tudo sobre o mundo da televisão. Acho isso tão estranho.”
Deixe-me então fazer-lhe uma questão: o que é que o mantém ocupado? “Diria que sou um empreiteiro, que mobila casas e que também escreve. Quando estou aborrecido, gosto de reconstruir coisas e por isso é que sempre tive o meu próprio local de trabalho em casa. Mas quis reduzir as dimensões do espaço que tinha acessível, então construí uma casa pequena na floresta, perto do mar (na Holanda). Vivemos metade do ano por lá, naqueles 22m2, e a outra metade em Bali, na Indonésia, com 25m2.”
É mesmo pequena. Como é que decide que objectos é que guarda? “Faço isso de mente limpa. No total, devo ter uma mala de viagem com pertences, mas não digo que todas as pessoas devam fazer o mesmo.”
Ser minimalista também significa ter sempre tudo arrumado? “Arrumar a casa não tem relação nenhuma com o minimalismo. Nem a Marie Kondo. Se o fizeres da melhor maneira possível, ser minimalista anda de mão dada com o fim de um vício por compras. Ajuda essencialmente a reorganizar. Contudo, não posso deixar de dizer que se organizares a tua casa de modo inteligente e não tiveres muitos pertences, não há grande necessidade de arrumações. É só preciso meter as coisas de volta no lugar delas, o que te dá alguma paz.”
Todos os seus pertences são sustentáveis? “Não, mas penso bastante nisso. Para mim, o que está errado com as ideias verdes e com o minimalismo é a noção de que tudo tem de ser perfeito. Em Amesterdão há muitas lojas de roupa que fazem tecidos a partir de materiais reciclados e de antigas redes de pesca. Todas estas marcas criticam a H&M e o Ikea, mas ao mesmo tempo estão a convidar-nos a consumir desenfreadamente a partir das suas lojas. O problema não está só nas grandes empresas que desenharam este cenário, mas também está em nós. Mesmo que só precisemos de uma nova t-shirt, acabamos a comprar oito.”
Penso imediatamente no excesso de tote bags de algodão que guardo no meu armário. Quão mau é que isso é? “Existem sacos de algodão suficientes para fazer 10 000 sacos de plástico. Na verdade, ficamos fartos dessas tote bags de algodão ao fim de três meses porque as letras e a estampagem deixam de nos interessar. Nesse sentido, é bem melhor metermos as nossas coisas num saco de plástico forte e usá-lo durante esses mesmos três meses. O mesmo problema acontece com as garrafas de água feitas de aço, mas que ficam amolgadas facilmente. Também as podes fazer com plástico, que é menos frágil. Mas não! Não o fazemos porque o plástico é mau. A ironia aqui é que são particularmente os extremistas que vão a festivais “verdes” que defendem que é melhor comprar um saco de algodão e uma garrafa de água de aço. Isso é óptimo, mas só se os usares durante anos.”
Pelo que estou a ver, há muitos mal-entendidos relativamente ao que é verde e ao que não é… “Não me faças começar! Em momento algum, um jornal explicou devidamente como é que podemos dar de comer ao mundo inteiro apenas com os alimentos que damos às nossas vacas. Se o fizéssemos, o problema da fome seria resolvido. Para acrescentar a isso: algumas pessoas ficaram aborrecidas comigo porque publiquei o meu livro em papel. Na opinião delas, devia ter apenas publicado um e-book. Esquecem-se é que, ou então não têm essa noção, de que tens de ler 40 livros por ano durante oito anos para ficares em “break even” com o ambiente. E isso nem tem em conta os e-readers, esses presentes de Natal negligenciados, que ficam esquecidos em cima da cómoda a ganhar pó. Em Holandês temos um ditado popular “daar valt niet tegenop te lezen”, que podes interpretar como “não lês o suficiente para bater isso”. Muitas das ideias que supostamente são super sustentáveis são muito menos sustentáveis do que imaginamos. Só temos de parar de comprar, mas como não temos nada para fazer, estamos constantemente a tentar preencher esse vazio com compras. Olhemos para o aborrecimento generalizado que se vê no Instagram. Diz tudo, não?”
Não temos nada para fazer, mas ao mesmo tempo estamos todos muito ocupados. Como é que isso é possível? “Falta-nos um objectivo colectivo. Em períodos anteriores, tivemos sempre um: a regeneração depois das Primeira e Segunda Guerras. Celebrar a liberdade nos anos sessenta. A luta contra a SIDA. Protestar contra a Guerra Fria. Apesar de o objectivo colectivo maior – sermos “verdes” -estar presente, não o adoptámos em massa. Eu preferia ver como é que podemos levar a Terra de forma mais eficaz em direcção a uma atitude “verde”, ver as empresas a virarem para um lado mais ecológico e ver que lutamos por algo. Mas as pessoas têm medo de fazer concessões. Todos sabem gritar aos sete ventos que precisamos de mudar, mas são poucos os que estão a fazer efectivamente alguma coisa para que isso aconteça. Não sentem a urgência, mas vai tornar-se clara. Resta saber é quando.”
Está mais consciente das alterações climáticas à conta das suas viagens? “Na verdade, nunca estive num país em que fossem tão claras. Quer dizer, uma vez estive num deserto que já tinha sido uma floresta antes, mas não estou certo de que tenha sido resultado das alterações climáticas ou um processo natural. Li muito e vi muitos documentários sobre este tema. É uma pena que esses documentários só sejam transmitidos pela televisão pública à noite. A essa hora, só pessoas que já se interessam pelo tema ou que estão dentro do tema é que assistem. Era preferível se agarrassem as pessoas que desligam a televisão assim que os programas de entretenimento terminam.”
Como é que conseguimos garantir que as pessoas que não estão a par neste momento têm a informação necessária, sem apontarmos o dedo? “Acho que vai levar muito tempo até conseguirmos todos, até porque não é assim tão simples. A maioria das vezes as pessoas ou são a favor ou são contra uma via mais ecológica. Gostamos de ver o mundo a preto e branco, mas eu prefiro vê-lo em tons de cinzento. É bom que percebamos que a forma equilibrada como lucrávamos com o nosso planeta acabou.”
Dennis Storm
A antiga celebridade que se transformou num minimalista a tempo inteiro
Dennis Storm, outrora apresentador de um conhecido programa de televisão holandês, escreveu recentemente um livro sobre a beleza do minimalismo e adora construir com as suas próprias mãos. Vive com a namorada e com os dois filhos num espaço com 22m2, gastando o seu tempo em actividades que lhe são verdadeiramente importantes.
Encontramo-nos com ele para discutirmos um mundo ideal assente nas suas ideias minimalistas, o que curiosamente deu origem a uma entrevista maximalista. “Sentimos falta de um objectivo colectivo, mas está mesmo à nossa frente. Nós é que não o queremos ver”.
Quando é que decidiu trabalhar menos e focar-se noutras coisas? “Eu não quis trabalhar menos, quis trabalhar menos por dinheiro. Eu gostava do programa de viagens que apresentava, só não gostava de o apresentar, e por isso não me considerava um bom exemplo para os meus filhos. Quando eles crescerem, gostava que fizessem algo que os entusiasmasse, e com boas intenções. Se pensas dessa forma, tens de começar por ti.”
Há muitas pessoas que vêem o seu trabalho anterior como o emprego de sonho. Isso colocava-lhe alguma pressão? “Não, mas é engraçado ver que há tantas noções pré-concebidas acerca deste género de profissões. As pessoas que trabalham na área dos media não vivem todas em Amesterdão, nem vão aos mesmos bares. Nem todas ganham balúrdios e vão para o trabalho de limousine. Se um livreiro deixar de gostar do seu trabalho e começar a fazer outra coisa, ninguém vai dizer nada. Já no meu caso, houve pessoas que não compreenderam que eu quis distanciar-me da profissão, mesmo algumas que me são próximas. Ser apresentador de televisão é uma espécie de cálice sagrado para muitos, mas eu nunca entendi a minha antiga profissão dessa maneira. Muitas pessoas não sabiam que havia mais coisas a manterem-me ocupado, mesmo quando ainda desempenhava essa função, mas também nunca perguntavam, era sempre tudo sobre o mundo da televisão. Acho isso tão estranho.”