Ricardo Lopes
Entrevista realizada dia 7 de Maio de 2019 na livraria-bar Menina e Moça, em Lisboa.
A ouvir sem headphones
Ricardo Lopes não viveu nos anos 60, não tem cabelo abaixo dos ombros, não mencionou o nome de Janis Joplin ou de Jimi Hendrix, nem nunca levantou o fura bolos e o pai de todos acompanhados das palavras “peace and love”, no entanto, durante a uma hora e vinte quatro minutos em que estivemos juntos na livraria Menina e Moça, referiu-se inúmeras vezes, e de forma apaixonada, à importância da entreajuda que encontra nas suas comunidades, como se fosse um hippie de gema.
“A conexão, não a digital, é algo a que temos de dar mais valor.”
Filho de industriais da doçaria da região de Leiria, desde cedo conheceu as receitas vencedoras no que toca a juntar pessoas, música, contextos e marcas, não tivesse o Ricardo estudado e trabalhado em marketing e publicidade. Há quem lhe chame organizador de eventos culturais, curador musical ou uma das cabecilhas das Lisbon Living Room Sessions, account publicitário é que já não, o ritmo agora é outro, com mais tempo, longevidade e muito estalar de dedos.
"A inexistência de pressa faz com que os projetos se tornem mais sólidos."
"Nada se faz e nada se consolida na urgência."
"Tens que viver, que ouvir... tu não te tornas um génio de um dia para o outro."
"É importante desligar uns momentos para te permitir estar contigo próprio."
"Somos o pais certo, na altura certa, com a tendência certa. Portugal pode ensinar o resto do mundo a desacelerar."
"Quanto tempo é que nos damos realmente aos outros?"
"Não podemos andar continuamente neste frenesim de querermos tudo, mas não sermos nada."
Encontrámo-nos na livraria-bar Menina e Moça, na rua cor de rosa vibrante do Cais do Sodré, em Lisboa. Curiosamente foi neste espaço, quando ainda se chamava Velha Senhora que terá começado o projecto a que Ricardo se dedica há mais de 4 anos. Nessa noite, da dificuldade em ouvir em condições um concerto de flamenco, juntamente com Joanna Hecker (igualmente embaixadora Slow Forward), por causa dos ruídos de uma festa de Natal, ambos desenvolveram um projecto para ouvir música de forma intimista e sem amigos secretos. As Lisbon Living Room Sessions começaram a 25 de Janeiro de 2015 com a Diego el Gavi Band, precisamente os músicos que mal ouviram na Velha Senhora.
Recuemos para Leiria, para o tempo em que a Fábrica Hidromel, bem como a confeitaria do mesmo nome, distribuíam doces pelo país e empregavam cerca de 200 pessoas. “A fábrica estava a 7 quilómetros de Leiria, na terra da minha mãe, Soutocico, que significa um conjunto de castanheiros pequenos.” Os pais de Ricardo tornaram-se pessoas importantes na região, não só pelo que produziam. “Quanto tens uma empresa com 200 pessoas não só tens relevância em termos económicos, tens também em termos sociais.”
A fábrica dividia-se em vários sectores, o rebuçado era o mais transversal ao ano, mas depois, conforme a sazonalidade, havia a seção de fruta enlatada, as frutas cristalizadas, as marmeladas, os doces, as amêndoas da Páscoa, as bolachas e os bolos-rei, vendidos um pouco por todo o lado e oferecidos e entregues pessoalmente aos alunos da Prisão-Escola de Leiria na véspera do natal. “Lembro-me de roubar pêssegos da linha de montagem, já cortados ao meio e sem caroços” resgatados a uma vida em calda. “Nas férias andava de empilhadora a carregar camiões. Se és filho do patrão tens de trabalhar. A casa era em frente à fábrica e às vezes estavam os meus amigos na piscina e eu a trabalhar.”
A fábrica dividia-se em vários sectores, o rebuçado era o mais transversal ao ano, mas depois, conforme a sazonalidade, havia a seção de fruta enlatada, as frutas cristalizadas, as marmeladas, os doces, as amêndoas da Páscoa, as bolachas e os bolos-rei, vendidos um pouco por todo o lado e oferecidos e entregues pessoalmente aos alunos da Prisão-Escola de Leiria na véspera do natal.
Ricardo nunca tocou qualquer instrumento, sempre esteve mais na perspectiva da produção. “Lembro-me de uma banda de amigos do liceu que tocava rock pesado. Eram os Ukurralle e fizeram um ensaio gravado na piscina vazia de minha casa. As festas de aniversário eram sempre grandes e marcantes, acho que começou aí a desenhar-se o meu percurso até à produção. Tem a ver com o saber receber. Como é que recebes em casa? Foi algo que aprendi com os meus pais.”
No ano em que o pai morreu Ricardo foi para Lisboa estudar e dois anos depois, em 1999, conheceu “o DJ Johnny, numa dessas noites loucas do Lux, que durou até à hora do almoço do dia seguinte a ouvir discos de vinil em casa dele.”
Entre o primeiro e o segundo pelotão da CoolTrain Crew (grupo de DJs e músicos de matriz drum and bass) Ricardo começa a dar-se com um grupo fundamental para a nova música de dança em Portugal. “Foi durante a passagem da primeira geração – onde está o Johnny, Dinis, Tiago Miranda, MC Knowledje, Vítor Belanciano, o Nuno Rosas, o Rui Murka – e o início da segunda, com o João Barbosa (a.k.a. Lil’John a.k.a. Branko), o Kalaf, o Rui Pité (DJ Riot) e o Alex Talhinhas, dos Macacos do Chinês. O Johnny tem um papel na nossa geração de quase mentor, alguém com um conhecimento profundo de vários géneros musicais que pensava na frescura da música enquanto algo intemporal, mas também enquanto movimentos cultural. É um criador por natureza.”
Em 2003 Ricardo e Johnny lançam as Leiria Jazz Sessions, “todos os domingos durante dois anos, levámos jazz ao centro da cidade de Leiria. A ideia era desconstruir a ideia pré-concebida que o jazz é todo free jazz, com cada músico a tocar para seu lado.”
As sessions mostraram aos leirienses como o jazz influencia tantos outros géneros (do hip hop ao drum and bass, do soul ao funk e bossa nova, do rock ao reggae) ou possui raízes comuns com a música do Mali e da costa ocidental africana. “Levámos o swing, os standards, projectos de música latino-americana, afro-beat e novos autores portugueses. Tentámos trazer os melhores músicos daquela geração, André Fernandes, Nelson Cascais, André Sousa Machado, Bruno Pedroso, David Biney, Craig Taborn, entre tantos outros.” O espaço era a Cervejaria Camões, no centro da cidade, com capacidade para 170 pessoas. “Quando avançámos achavam-nos loucos, ‘como é que vão trazer jazz para uma cidade de província que até pode ser rica financeira e economicamente, mas é muito pobre culturalmente, ainda por cima num domingo, às 21h30, quando as pessoas estão a ver televisão?’”
Nessa altura, num dos domingos de cada mês, Johnny passava temas em vinil, o João Barbosa criava um set e surgia um convidado a declamar poesia. O Antonio Tabucchi era o responsável por fazer a ponte entre os ícones do jazz e a literatura portuguesa, os primeiros foram Miles Davis featuring Fernando Pessoa (spoken word por Kalaf), Duke Ellington com Natália Correia e Charlie Parker em diálogo com José Cardoso Pires. “O medo dissipou-se e estivemos sempre cheios.” Houve um episódio especial com um casal de funcionários públicos local. “Chegaram ao pé de mim, passados uns meses, para agradecerem o facto daquilo acontecer em Leiria e depois dizem ‘já comprámos dois álbuns de jazz’. Fiquei curioso e perguntei quais eram. Sara Vaughn era o primeiro. Ok, é comercial, um swing, fácil de ouvir, mas bom. O segundo era Thelonious Monk. E aí pensei ‘o meu trabalho está feito’. Ou seja um músico que não é fácil de ouvir, complexo, chegou aquele casal. Assim como eu fiz, e continuo a fazer o meu percurso, eles também poderão fazer o deles. É esse o mote, o teu papel enquanto músico ou agente cultural.”
A grande maioria dos projectos continuados de música demoram tempo a preparar, tempo a enraizarem-se, tempo a crescer, mas em publicidade é o oposto, é tudo rápido, para ontem e para esquecer. “A inexistência de pressa faz com que os projetos se tornem mais sólidos. Nada se faz e nada se consolida na urgência. Nós vemos fenómenos efémeros contínuos que são o melhor, o maior, tudo para amanhã, tudo com uma máquina por trás, mas são raros os que têm longevidade.”
O que começou em Leiria e depois passou para as Lisboa Jazz Sessions (no bar Bicaense), as Lux Frágil Jazz Sessions, as Lisbon Living Room Sessions e concertos Fado Redux, entre outros projectos, foi um percurso em crescendo, em adaptação ao meio e com a criação de pequenos tribos de fiéis. “Os hábitos ajudam a criar um sentimento de pertença e aprender passo a passo, sem ser à pressa. As pessoas sabem que a qualidade está lá, que podem contar com o momento hoje ou para a semana ou no mês que vem.”
Nos seus projectos musicais Ricardo cruza várias áreas e cabeças criativas, entre músicos, DJs, escritores, ilustradores e fotógrafos “para se criar um produto, tem de fazer sentido como um todo, as pessoas estão à espera de ter referencias e âncoras que lhes possam ensinar algo.”
É extremamente importante saber, “quando se vive em sociedade e numa comunidade, qual é o nosso papel? Estamos aqui só para receber, tipo consumidores? Estamos à espera que o outros nos sirvam, que a junta de freguesia ou a câmara ou o governo trate de tudo? Ou podemos também fazer alguma coisa, à nossa dimensão? E como é que isso pode ter impacto na comunidade? Foi assim que nasceram todos os projectos: com partilha, intervenção, uma certa len-ti-dão, mas que criam realmente uma comunidade.”
E o retorno da comunidade, será que é palpável? “Sinto reconhecimento. Uma coisa é a comunidade da tua rua, do teu bairro, da tua cidade. Os projectos podem ter uma dimensão pequena, mas são casas cheias, as pessoas estão lá apaixonadamente. Com amigos e passa palavra. Mas há um gap entre as pessoas que fazem as coisas de paixão, onde não há uma vertente meramente financeira, e as direções de marketing que não sabem o que é que está na rua ou os jornalista que não saem da redação.”
Há muita gente demasiado ocupada para prestar atenção à génese de alguns movimentos. “Vivemos atrás de um ecrã, andamos na rua de headphones, não tempos tempo para os outros, não estamos atentos, não nos envolvemos…”
O que é que fazes para parar? “Viajo. Desligo completamente.” E em Lisboa? “Eu não uso headphones na cidade, tento ouvir os ritmos da cidade quando ando a pé. Saio à noite para ouvir música, principalmente de domingo a quinta. Às vezes vou a sítios que não lembram a ninguém, mas está lá um músico que nunca vi ao vivo, num local que pode ser interessante e aquela combinação, a uma terça-feira à noite… Já tive tantos encontros inacreditáveis que se eu não tentar, não for, não me envolver, não acontecem.”
Ricardo obriga-se a si próprio, quase como se fosse uma missão, a explorar territórios desconhecidos, “é uma curiosidade contínua”, o que lhe permite ser o seu próprio dealer de novidades, em 90% dos casos. A ideia é perceber se uma banda ou músico consegue comunicar com o publico. “Lembro-me do Keziah Jones, um músico nigeriano, uma referência nas Living Room Sessions. Quando já tínhamos para aí dois anos de existência, foi aí que saímos do underground dos amigos.” Ricardo recorda-se também que os jornalistas acordaram para o projecto porque pensaram ‘como é que um nome como o Keziah Jones toca em Lisboa numa sala de estar?’ “Há um delay muito grande, mas tu pensas, vocês têm esta informação há mais tempo, não tinha de ser o Keziah, podia ser o António ou o Manel… Prestem atenção, tenham a experiência, venham ver.”
“Eu encontro-o à porta da Bela, a tasca na Rua dos Remédios onde vou com alguma regularidade apoiar outros curadores como o Carlos Mil-Homens. E numa noite normal de copos, música e amigos, aparece o Keziah Jones com o seu chapéu. Eu não me lembrava da cara dele e começámos a falar, até que alguém me pergunta sabes quem é?”
Quando Ricardo percebe quem tinha à frente, não perde tempo e convida-o para a sessão seguinte das L.L.R.S. e o músico aceita. “Isto acontece quando há familiaridade e confiança, quando percebem que as pessoas do outro lado são for real e fazem as coisas de paixão.” Depois as relações transformam-se em concertos intimistas, únicos e irrepetíveis, com notícias no Público e no Expresso. “Outra coisa que o Keziah me disse, que também tem a ver com o tempo e autenticidade, foi que ao tocar a um metro de distância do publico, numa sala cheia, calor para caramba, pensou: ‘aqui não há truques, és um músico de rua, ou sabes ou não sabes.’”
Intimidade, proximidade, confiança e longevidade, é o que Ricardo procura nos seus projetos, sejam desenvolvidos a duas, quatro ou mais mãos. No meio do trabalho viaja, tal como na viagem que era para durar três meses, só com voo de ida para a Argentina, e durou dois anos. “É importante desligar uns momentos para te permitir estar contigo próprio.”
“As viagens como eu faço, são sem nada marcado. Tenho uma máxima que é ‘quando começa a ficar demasiado confortável (estala os dedos) tenho de arrancar’. Não posso criar raízes. É sair da zona de conforto continuamente.”
Que culturas nos podem ensinar melhores formas de lidar com o tempo? “Os países que mais me marcaram são de cultura budista, uma cultura mais calma que respeita o tempo e espaço de cada um. Nota-se em países como a Birmânia. Acho que tem a ver com a delicadeza do trato, mas também com o facto de não estarem tão evoluídos tecnologicamente. Têm tempo que dedicam aos outros, querem conhecer-te, estão dispostos para a partilha, seja uma cama, um prato de comida ou uma conversa.”
Há músicos que se reinventam constantemente, ‘camaleónicos’ como os críticos gostam de lhes chamar. No polo oposto encontramos aqueles que estão sempre a gravar o mesmo disco, apenas com nomes diferentes. O que acha o nosso curador desta dicotomia? “É sempre difícil criar. Sai-te das entranhas. Há projectos que demoram meses a sair, porque não tenho o ângulo certo, penso que é assim também com músicos ou escritores que têm uma determinada audiência. As pessoas estão à espera de uma evolução ou então de um contraste muito grande. Há música antiga muito actual. O Bonga de repente é actual, dentro deste movimento da nova Lisboa. Eu sempre vi os projectos assim. Quantos discos de jazz dos anos 50, 60 não soam frescos hoje em dia?”
Será que o grande objectivo de qualquer criação é ser intemporal? Não ter tempo? “Seria um bom objectivo. É sentir o tempo, aqui e agora. Há génios que o conseguem. O João Barbosa (Branko) é alguém que está sempre a procurar novos caminhos e a sentir a vibração da cidade”. Ricardo volta a estalar os dedos e conta-nos uma história de Miles Davis. “Quando ele cria o álbum Doo-Bop (1992) entra no hip hop, e numa entrevista diz ‘eu meti a cabeça fora da janela e este era o ritmo da cidade’. É a questão da sensibilidade e de sentir o momento, a forma como se cruza a informação e se cria algo de marcante, é algo que precisa (mais uma vez) de tempo. Tens que viver, que ouvir… tu não te tornas um génio de um dia para o outro. Um Picasso, um Miles Davis, é uma evolução contínua.”
Depois de Doo-Bop (1992) viajamos até 1975 para falar de outro grande disco de jazz e um dos mais vendidos de sempre, The Köln Concert, que acompanha Ricardo quando precisa de tempo. “Ouvi-o centenas de vezes. Em momentos em que estou a escrever e não posso ouvir nada com letras. Já o ouvi quando estou triste, quando preciso de algo que me enraíze ou então em momentos em que quero estar fora da minha cabeça e perder-me pela música.” Neste momento da conversa um cliente da livraria-café onde estamos, senta-se ao piano que está a menos de um metro de nós e começa a tocar de forma quase tão compenetrada quanto Keith Jarret há 44 anos atrás, em Colónia, como se fizesse questão de nos dar a banda sonora certa, no momento certo. “É um álbum inacreditável que me foi oferecido por uma amiga, a minha professora de literatura inglesa na universidade, a Ângela Prestes, que teve nesse concerto. Esse disco durante uma viagem, pode estar chuva ou sol, se o ouves do principio ao fim, não dás pelo tempo passar. Esse álbum tira-te do momento.”
Ser curador musical e português em 2019 é, mais do que nunca, estar atento ao momento. “Portugal está na moda e em contraciclo com sociedades mais agitadas. Todas estas start-ups vêm para um pais à beira-mar plantado, têm a nossa dieta mediterrânica, vivem a minutos da praia… somos o pais certo, na altura certa, com a tendência certa. Portugal pode ensinar o resto do mundo a desacelerar.”
O que Ricardo tem feito, seja em festas na aldeia de Soutocico, no Lux ou numa sala de estar próxima, é entrelaçar e partilhar numa experiência, aquilo que ouviu e observou aqui e ali, de domingo a quinta. “Esta questão de ter tempo para o outro é aquilo que é mais relevante.” E às tantas, a propósito da morte de um amigo, membro de uma comunidade aparentemente hippie, a que Ricardo pertence, levantou a questão “Quanto tempo é que nos damos realmente aos outros? Quanto tempo é que precisamos para nos conhecermos melhor? Não podemos andar continuamente neste frenesim de querermos tudo, mas não sermos nada. A entreajuda da comunidade é algo a que temos de dar mais valor.”
Ricardo Lopes não viveu nos anos 60, não tem cabelo abaixo dos ombros, não mencionou o nome de Janis Joplin ou de Jimi Hendrix, nem nunca levantou o fura bolos e o pai de todos acompanhados das palavras “peace and love”, no entanto, durante a uma hora e vinte quatro minutos em que estivemos juntos na livraria Menina e Moça, referiu-se inúmeras vezes, e de forma apaixonada, à importância da entreajuda que encontra nas suas comunidades, como se fosse um hippie de gema.
“A conexão, não a digital, é algo a que temos de dar mais valor.”
Filho de industriais da doçaria da região de Leiria, desde cedo conheceu as receitas vencedoras no que toca a juntar pessoas, música, contextos e marcas, não tivesse o Ricardo estudado e trabalhado em marketing e publicidade. Há quem lhe chame organizador de eventos culturais, curador musical ou uma das cabecilhas das Lisbon Living Room Sessions, account publicitário é que já não, o ritmo agora é outro, com mais tempo, longevidade e muito estalar de dedos.
"A inexistência de pressa faz com que os projetos se tornem mais sólidos."
"Nada se faz e nada se consolida na urgência."
"Tens que viver, que ouvir... tu não te tornas um génio de um dia para o outro."
"É importante desligar uns momentos para te permitir estar contigo próprio."
"Somos o pais certo, na altura certa, com a tendência certa. Portugal pode ensinar o resto do mundo a desacelerar."
"Quanto tempo é que nos damos realmente aos outros?"
"Não podemos andar continuamente neste frenesim de querermos tudo, mas não sermos nada."
Encontrámo-nos na livraria-bar Menina e Moça, na rua cor de rosa vibrante do Cais do Sodré, em Lisboa. Curiosamente foi neste espaço, quando ainda se chamava Velha Senhora que terá começado o projecto a que Ricardo se dedica há mais de 4 anos. Nessa noite, da dificuldade em ouvir em condições um concerto de flamenco, juntamente com Joanna Hecker (igualmente embaixadora Slow Forward), por causa dos ruídos de uma festa de Natal, ambos desenvolveram um projecto para ouvir música de forma intimista e sem amigos secretos. As Lisbon Living Room Sessions começaram a 25 de Janeiro de 2015 com a Diego el Gavi Band, precisamente os músicos que mal ouviram na Velha Senhora.
Recuemos para Leiria, para o tempo em que a Fábrica Hidromel, bem como a confeitaria do mesmo nome, distribuíam doces pelo país e empregavam cerca de 200 pessoas. “A fábrica estava a 7 quilómetros de Leiria, na terra da minha mãe, Soutocico, que significa um conjunto de castanheiros pequenos.” Os pais de Ricardo tornaram-se pessoas importantes na região, não só pelo que produziam. “Quanto tens uma empresa com 200 pessoas não só tens relevância em termos económicos, tens também em termos sociais.”
A fábrica dividia-se em vários sectores, o rebuçado era o mais transversal ao ano, mas depois, conforme a sazonalidade, havia a seção de fruta enlatada, as frutas cristalizadas, as marmeladas, os doces, as amêndoas da Páscoa, as bolachas e os bolos-rei, vendidos um pouco por todo o lado e oferecidos e entregues pessoalmente aos alunos da Prisão-Escola de Leiria na véspera do natal. “Lembro-me de roubar pêssegos da linha de montagem, já cortados ao meio e sem caroços” resgatados a uma vida em calda. “Nas férias andava de empilhadora a carregar camiões. Se és filho do patrão tens de trabalhar. A casa era em frente à fábrica e às vezes estavam os meus amigos na piscina e eu a trabalhar.”
A fábrica dividia-se em vários sectores, o rebuçado era o mais transversal ao ano, mas depois, conforme a sazonalidade, havia a seção de fruta enlatada, as frutas cristalizadas, as marmeladas, os doces, as amêndoas da Páscoa, as bolachas e os bolos-rei, vendidos um pouco por todo o lado e oferecidos e entregues pessoalmente aos alunos da Prisão-Escola de Leiria na véspera do natal.
Ricardo nunca tocou qualquer instrumento, sempre esteve mais na perspectiva da produção. “Lembro-me de uma banda de amigos do liceu que tocava rock pesado. Eram os Ukurralle e fizeram um ensaio gravado na piscina vazia de minha casa. As festas de aniversário eram sempre grandes e marcantes, acho que começou aí a desenhar-se o meu percurso até à produção. Tem a ver com o saber receber. Como é que recebes em casa? Foi algo que aprendi com os meus pais.”
No ano em que o pai morreu Ricardo foi para Lisboa estudar e dois anos depois, em 1999, conheceu “o DJ Johnny, numa dessas noites loucas do Lux, que durou até à hora do almoço do dia seguinte a ouvir discos de vinil em casa dele.”
Entre o primeiro e o segundo pelotão da CoolTrain Crew (grupo de DJs e músicos de matriz drum and bass) Ricardo começa a dar-se com um grupo fundamental para a nova música de dança em Portugal. “Foi durante a passagem da primeira geração – onde está o Johnny, Dinis, Tiago Miranda, MC Knowledje, Vítor Belanciano, o Nuno Rosas, o Rui Murka – e o início da segunda, com o João Barbosa (a.k.a. Lil’John a.k.a. Branko), o Kalaf, o Rui Pité (DJ Riot) e o Alex Talhinhas, dos Macacos do Chinês. O Johnny tem um papel na nossa geração de quase mentor, alguém com um conhecimento profundo de vários géneros musicais que pensava na frescura da música enquanto algo intemporal, mas também enquanto movimentos cultural. É um criador por natureza.”
Em 2003 Ricardo e Johnny lançam as Leiria Jazz Sessions, “todos os domingos durante dois anos, levámos jazz ao centro da cidade de Leiria. A ideia era desconstruir a ideia pré-concebida que o jazz é todo free jazz, com cada músico a tocar para seu lado.”
As sessions mostraram aos leirienses como o jazz influencia tantos outros géneros (do hip hop ao drum and bass, do soul ao funk e bossa nova, do rock ao reggae) ou possui raízes comuns com a música do Mali e da costa ocidental africana. “Levámos o swing, os standards, projectos de música latino-americana, afro-beat e novos autores portugueses. Tentámos trazer os melhores músicos daquela geração, André Fernandes, Nelson Cascais, André Sousa Machado, Bruno Pedroso, David Biney, Craig Taborn, entre tantos outros.” O espaço era a Cervejaria Camões, no centro da cidade, com capacidade para 170 pessoas. “Quando avançámos achavam-nos loucos, ‘como é que vão trazer jazz para uma cidade de província que até pode ser rica financeira e economicamente, mas é muito pobre culturalmente, ainda por cima num domingo, às 21h30, quando as pessoas estão a ver televisão?’”
Nessa altura, num dos domingos de cada mês, Johnny passava temas em vinil, o João Barbosa criava um set e surgia um convidado a declamar poesia. O Antonio Tabucchi era o responsável por fazer a ponte entre os ícones do jazz e a literatura portuguesa, os primeiros foram Miles Davis featuring Fernando Pessoa (spoken word por Kalaf), Duke Ellington com Natália Correia e Charlie Parker em diálogo com José Cardoso Pires. “O medo dissipou-se e estivemos sempre cheios.” Houve um episódio especial com um casal de funcionários públicos local. “Chegaram ao pé de mim, passados uns meses, para agradecerem o facto daquilo acontecer em Leiria e depois dizem ‘já comprámos dois álbuns de jazz’. Fiquei curioso e perguntei quais eram. Sara Vaughn era o primeiro. Ok, é comercial, um swing, fácil de ouvir, mas bom. O segundo era Thelonious Monk. E aí pensei ‘o meu trabalho está feito’. Ou seja um músico que não é fácil de ouvir, complexo, chegou aquele casal. Assim como eu fiz, e continuo a fazer o meu percurso, eles também poderão fazer o deles. É esse o mote, o teu papel enquanto músico ou agente cultural.”
A grande maioria dos projectos continuados de música demoram tempo a preparar, tempo a enraizarem-se, tempo a crescer, mas em publicidade é o oposto, é tudo rápido, para ontem e para esquecer. “A inexistência de pressa faz com que os projetos se tornem mais sólidos. Nada se faz e nada se consolida na urgência. Nós vemos fenómenos efémeros contínuos que são o melhor, o maior, tudo para amanhã, tudo com uma máquina por trás, mas são raros os que têm longevidade.”
O que começou em Leiria e depois passou para as Lisboa Jazz Sessions (no bar Bicaense), as Lux Frágil Jazz Sessions, as Lisbon Living Room Sessions e concertos Fado Redux, entre outros projectos, foi um percurso em crescendo, em adaptação ao meio e com a criação de pequenos tribos de fiéis. “Os hábitos ajudam a criar um sentimento de pertença e aprender passo a passo, sem ser à pressa. As pessoas sabem que a qualidade está lá, que podem contar com o momento hoje ou para a semana ou no mês que vem.”
Nos seus projectos musicais Ricardo cruza várias áreas e cabeças criativas, entre músicos, DJs, escritores, ilustradores e fotógrafos “para se criar um produto, tem de fazer sentido como um todo, as pessoas estão à espera de ter referencias e âncoras que lhes possam ensinar algo.”
É extremamente importante saber, “quando se vive em sociedade e numa comunidade, qual é o nosso papel? Estamos aqui só para receber, tipo consumidores? Estamos à espera que o outros nos sirvam, que a junta de freguesia ou a câmara ou o governo trate de tudo? Ou podemos também fazer alguma coisa, à nossa dimensão? E como é que isso pode ter impacto na comunidade? Foi assim que nasceram todos os projectos: com partilha, intervenção, uma certa len-ti-dão, mas que criam realmente uma comunidade.”
E o retorno da comunidade, será que é palpável? “Sinto reconhecimento. Uma coisa é a comunidade da tua rua, do teu bairro, da tua cidade. Os projectos podem ter uma dimensão pequena, mas são casas cheias, as pessoas estão lá apaixonadamente. Com amigos e passa palavra. Mas há um gap entre as pessoas que fazem as coisas de paixão, onde não há uma vertente meramente financeira, e as direções de marketing que não sabem o que é que está na rua ou os jornalista que não saem da redação.”
Há muita gente demasiado ocupada para prestar atenção à génese de alguns movimentos. “Vivemos atrás de um ecrã, andamos na rua de headphones, não tempos tempo para os outros, não estamos atentos, não nos envolvemos…”
O que é que fazes para parar? “Viajo. Desligo completamente.” E em Lisboa? “Eu não uso headphones na cidade, tento ouvir os ritmos da cidade quando ando a pé. Saio à noite para ouvir música, principalmente de domingo a quinta. Às vezes vou a sítios que não lembram a ninguém, mas está lá um músico que nunca vi ao vivo, num local que pode ser interessante e aquela combinação, a uma terça-feira à noite… Já tive tantos encontros inacreditáveis que se eu não tentar, não for, não me envolver, não acontecem.”
Ricardo obriga-se a si próprio, quase como se fosse uma missão, a explorar territórios desconhecidos, “é uma curiosidade contínua”, o que lhe permite ser o seu próprio dealer de novidades, em 90% dos casos. A ideia é perceber se uma banda ou músico consegue comunicar com o publico. “Lembro-me do Keziah Jones, um músico nigeriano, uma referência nas Living Room Sessions. Quando já tínhamos para aí dois anos de existência, foi aí que saímos do underground dos amigos.” Ricardo recorda-se também que os jornalistas acordaram para o projecto porque pensaram ‘como é que um nome como o Keziah Jones toca em Lisboa numa sala de estar?’ “Há um delay muito grande, mas tu pensas, vocês têm esta informação há mais tempo, não tinha de ser o Keziah, podia ser o António ou o Manel… Prestem atenção, tenham a experiência, venham ver.”
“Eu encontro-o à porta da Bela, a tasca na Rua dos Remédios onde vou com alguma regularidade apoiar outros curadores como o Carlos Mil-Homens. E numa noite normal de copos, música e amigos, aparece o Keziah Jones com o seu chapéu. Eu não me lembrava da cara dele e começámos a falar, até que alguém me pergunta sabes quem é?”
Quando Ricardo percebe quem tinha à frente, não perde tempo e convida-o para a sessão seguinte das L.L.R.S. e o músico aceita. “Isto acontece quando há familiaridade e confiança, quando percebem que as pessoas do outro lado são for real e fazem as coisas de paixão.” Depois as relações transformam-se em concertos intimistas, únicos e irrepetíveis, com notícias no Público e no Expresso. “Outra coisa que o Keziah me disse, que também tem a ver com o tempo e autenticidade, foi que ao tocar a um metro de distância do publico, numa sala cheia, calor para caramba, pensou: ‘aqui não há truques, és um músico de rua, ou sabes ou não sabes.’”
Intimidade, proximidade, confiança e longevidade, é o que Ricardo procura nos seus projetos, sejam desenvolvidos a duas, quatro ou mais mãos. No meio do trabalho viaja, tal como na viagem que era para durar três meses, só com voo de ida para a Argentina, e durou dois anos. “É importante desligar uns momentos para te permitir estar contigo próprio.”
“As viagens como eu faço, são sem nada marcado. Tenho uma máxima que é ‘quando começa a ficar demasiado confortável (estala os dedos) tenho de arrancar’. Não posso criar raízes. É sair da zona de conforto continuamente.”
Que culturas nos podem ensinar melhores formas de lidar com o tempo? “Os países que mais me marcaram são de cultura budista, uma cultura mais calma que respeita o tempo e espaço de cada um. Nota-se em países como a Birmânia. Acho que tem a ver com a delicadeza do trato, mas também com o facto de não estarem tão evoluídos tecnologicamente. Têm tempo que dedicam aos outros, querem conhecer-te, estão dispostos para a partilha, seja uma cama, um prato de comida ou uma conversa.”
Há músicos que se reinventam constantemente, ‘camaleónicos’ como os críticos gostam de lhes chamar. No polo oposto encontramos aqueles que estão sempre a gravar o mesmo disco, apenas com nomes diferentes. O que acha o nosso curador desta dicotomia? “É sempre difícil criar. Sai-te das entranhas. Há projectos que demoram meses a sair, porque não tenho o ângulo certo, penso que é assim também com músicos ou escritores que têm uma determinada audiência. As pessoas estão à espera de uma evolução ou então de um contraste muito grande. Há música antiga muito actual. O Bonga de repente é actual, dentro deste movimento da nova Lisboa. Eu sempre vi os projectos assim. Quantos discos de jazz dos anos 50, 60 não soam frescos hoje em dia?”
Será que o grande objectivo de qualquer criação é ser intemporal? Não ter tempo? “Seria um bom objectivo. É sentir o tempo, aqui e agora. Há génios que o conseguem. O João Barbosa (Branko) é alguém que está sempre a procurar novos caminhos e a sentir a vibração da cidade”. Ricardo volta a estalar os dedos e conta-nos uma história de Miles Davis. “Quando ele cria o álbum Doo-Bop (1992) entra no hip hop, e numa entrevista diz ‘eu meti a cabeça fora da janela e este era o ritmo da cidade’. É a questão da sensibilidade e de sentir o momento, a forma como se cruza a informação e se cria algo de marcante, é algo que precisa (mais uma vez) de tempo. Tens que viver, que ouvir… tu não te tornas um génio de um dia para o outro. Um Picasso, um Miles Davis, é uma evolução contínua.”
Depois de Doo-Bop (1992) viajamos até 1975 para falar de outro grande disco de jazz e um dos mais vendidos de sempre, The Köln Concert, que acompanha Ricardo quando precisa de tempo. “Ouvi-o centenas de vezes. Em momentos em que estou a escrever e não posso ouvir nada com letras. Já o ouvi quando estou triste, quando preciso de algo que me enraíze ou então em momentos em que quero estar fora da minha cabeça e perder-me pela música.” Neste momento da conversa um cliente da livraria-café onde estamos, senta-se ao piano que está a menos de um metro de nós e começa a tocar de forma quase tão compenetrada quanto Keith Jarret há 44 anos atrás, em Colónia, como se fizesse questão de nos dar a banda sonora certa, no momento certo. “É um álbum inacreditável que me foi oferecido por uma amiga, a minha professora de literatura inglesa na universidade, a Ângela Prestes, que teve nesse concerto. Esse disco durante uma viagem, pode estar chuva ou sol, se o ouves do principio ao fim, não dás pelo tempo passar. Esse álbum tira-te do momento.”
Ser curador musical e português em 2019 é, mais do que nunca, estar atento ao momento. “Portugal está na moda e em contraciclo com sociedades mais agitadas. Todas estas start-ups vêm para um pais à beira-mar plantado, têm a nossa dieta mediterrânica, vivem a minutos da praia… somos o pais certo, na altura certa, com a tendência certa. Portugal pode ensinar o resto do mundo a desacelerar.”
O que Ricardo tem feito, seja em festas na aldeia de Soutocico, no Lux ou numa sala de estar próxima, é entrelaçar e partilhar numa experiência, aquilo que ouviu e observou aqui e ali, de domingo a quinta. “Esta questão de ter tempo para o outro é aquilo que é mais relevante.” E às tantas, a propósito da morte de um amigo, membro de uma comunidade aparentemente hippie, a que Ricardo pertence, levantou a questão “Quanto tempo é que nos damos realmente aos outros? Quanto tempo é que precisamos para nos conhecermos melhor? Não podemos andar continuamente neste frenesim de querermos tudo, mas não sermos nada. A entreajuda da comunidade é algo a que temos de dar mais valor.”
Ricardo Lopes
A ouvir sem headphones
Entrevista realizada dia 7 de Maio de 2019 na livraria-bar Menina e Moça, em Lisboa.
Ricardo Lopes não viveu nos anos 60, não tem cabelo abaixo dos ombros, não mencionou o nome de Janis Joplin ou de Jimi Hendrix, nem nunca levantou o fura bolos e o pai de todos acompanhados das palavras “peace and love”, no entanto, durante a uma hora e vinte quatro minutos em que estivemos juntos na livraria Menina e Moça, referiu-se inúmeras vezes, e de forma apaixonada, à importância da entreajuda que encontra nas suas comunidades, como se fosse um hippie de gema.
“A conexão, não a digital, é algo a que temos de dar mais valor.”
Filho de industriais da doçaria da região de Leiria, desde cedo conheceu as receitas vencedoras no que toca a juntar pessoas, música, contextos e marcas, não tivesse o Ricardo estudado e trabalhado em marketing e publicidade. Há quem lhe chame organizador de eventos culturais, curador musical ou uma das cabecilhas das Lisbon Living Room Sessions, account publicitário é que já não, o ritmo agora é outro, com mais tempo, longevidade e muito estalar de dedos.
"A inexistência de pressa faz com que os projetos se tornem mais sólidos."
"Nada se faz e nada se consolida na urgência."
"Tens que viver, que ouvir... tu não te tornas um génio de um dia para o outro."
"É importante desligar uns momentos para te permitir estar contigo próprio."
"Somos o pais certo, na altura certa, com a tendência certa. Portugal pode ensinar o resto do mundo a desacelerar."
"Quanto tempo é que nos damos realmente aos outros?"
"Não podemos andar continuamente neste frenesim de querermos tudo, mas não sermos nada."
Encontrámo-nos na livraria-bar Menina e Moça, na rua cor de rosa vibrante do Cais do Sodré, em Lisboa.
Curiosamente foi neste espaço, quando ainda se chamava Velha Senhora que terá começado o projecto a que Ricardo se dedica há 4 anos.
Nessa noite, da dificuldade em ouvir em condições um concerto de flamenco, juntamente com Joanna Hecker (igualmente embaixadora Slow Forward), por causa dos ruídos de uma festa de Natal, ambos desenvolveram um projecto para ouvir música de forma intimista e sem amigos secretos.
As Lisbon Living Room Sessions começaram a 25 de Janeiro de 2015 com a Diego el Gavi Band, precisamente os músicos que mal ouviram na Velha Senhora.
Recuemos para Leiria, para o tempo em que a Fábrica Hidromel, bem como a confeitaria do mesmo nome, distribuíam doces pelo país e empregavam cerca de 200 pessoas.
“A fábrica estava a 7 quilómetros de Leiria, na terra da minha mãe, Soutocico, que significa um conjunto de castanheiros pequenos.”
Os pais de Ricardo tornaram-se pessoas importantes na região, não só pelo que produziam.
“Quanto tens uma empresa com 200 pessoas não só tens relevância em termos económicos, tens também em termos sociais.”